Chap. 1- part 1/2
Nem sempre fui essa bizarrice que sou hoje.
- Advinha!
As mãos quentes e
úmidas de Haven apertam minha bochechas, e seu anel, um crânio de prata
escurecido, deixa uma marca sobre minha
pele. E mesmo que eu esteja com os olhos cobertos e fechados, sei que os
cabelos dela, tingidos de preto, estão partidos ao meio, um espartilho de vinil
se sobrepõe a uma blusa de gola rulê – mantendo-se em conformidade com o código
de vestimenta do colégio – a saia comprida de cetim com um furo próximo à
bainha, de quando ela pisou com o bico
das botas Doc Martens, os olhos parecem dourados, mas só porque ela está usando
lentes de contato amarelas.
Também sei que o
pai dela não está viajando “ a trabalho”, como ele mesmo disse, que o personal
trainer da sua mãe é muito mais “personal” que “trainer” e que o irmão caçula
quebrou um CD dela, do Evanescence, e agora está com medo de contar.
Mas não sei isso
tudo porque andei bisbilhotando a vida dela, nem porque alguém me contou. Sei
porque tenho poderes sobrenaturais.
- Anda logo,
adivinha! Daqui a pouco o sinal vai tocar! – ela diz com a voz rouca, como se
fumasse um maço de cigarro por dia, embora só tenha tentado fumar uma vez.
Enrolo um pouco enquanto
penso na última pessoa com quem ela gostaria de ser confundida.
- Hilarry Duff?
- Eca! Vai, tenta
de novo. – ela aperta ainda mais forte, nem sequer desconfiando de que não
preciso ver pra saber.
- Será a sra. Marilyn
Manson?
Ela ri e
desencosta as mãos, e então lambe o polegar para apagar a tatuagem de sugeria
em minha bochecha, mas levanto o braço antes que ela possa me alcançar. Não
porque tinha nojo da saliva dela (quer dizer, sei que ela não tem doença
nenhuma), mas porque não quero que encoste em mim novamente. O toque humano é
muito revelador, muito cansativo, então procuro evita-lo a todo custo.
Com um gesto
rápido, ela tira o capuz da minha cabeça e aperta os olhos ao ver meu fones de
ouvido.
- O que vocês está
ouvindo?
Levo a mão ao
bolsinho para Ipod que costurei no capuz de todos os meus moletons ( para
esconder dos professores os tão famosos fiozinhos brancos) e entrego a ela o
aparelho.
- Puxa... – ela
diz com os olhos arregalados – Quer dizer, que barulheira é que está cantando
isso?
Haven se curva
para que nós possamos ouvir Sid Vicious berrando sobre a anarquia do Reino
Unido. Na verdade, nem sei se ele é a favor ou contra. Sei apenas que berra o
suficiente para dar uma acalmada nos meus supersentidos.
- Sex Pistols. –
respondo, desligando o Ipod e guardando de volta no esconderijo.
- Nem sei como
você pode me ouvir. – Haven sorri ao mesmo tempo em que o sinal toca.
Simplesmente dou
de ombros. Não preciso escutar para ouvir. Claro, não é isso que eu digo a ela.
Falo apenas que a gente vai se ver na hora do almoço e vou para aminha aula, atravessando o campus da escola
e encolhendo-me ao intuir dois garotos que se aproximaram pelas costas de Haven
e pisam na bainha da saia dela – por pouco não a fazem cair. Mas quando ela
vira para trás e faz o sinal do mal ( certo, não é o sinal do mal, mas algo que
ela mesma inventou) e os encara com aqueles olhos amarelos, eles imediatamente
se afastam e a deixam em
paz. Quanto a mim, suspiro aliviada e entro na minhas sala de
aula, sabendo que não vai demorar até que eu deixe de sentir a energia
persistente do toque de Haven.
A caminho do meu
lugar, no fundo da sala, desvio-me da bolsa que Stacia Miller deixou de
propósito em meu caminho e ignoro a serenata que ela diariamente sussurra a me
ver – “PERDERORA!”. Em seguida, acomodo-me na cadeira, tiro o livro, caderno e
caneta da mochila, coloco os fones de ouvido, visto o capuz, jogo a mochila na
carteira vazia a meu lado e espero pela chegada do sr. Robins.
O sr. Robins está
sempre atrasado. Sobretudo porque gosta de tomar uns goles de seu cantil de
prata entre uma aula e outra. Mas bebe apenas porque a mulher grita com ele o
tempo todo, a filha o considera um fracassado e ele, quase sempre, detesta a
própria vida. Descobri tudo isso em meu primeiro dia nesta escola, quando
acidentalmente toquei na mão dele ao entregar o formulário de transferência.
Agora sempre que tenho que entregar alguma coisa à ele, deixo na beirada da
mesa.
Fecho os olhos e
espero, enquanto meus dedos deslizam
pelo moletom, a fim de trocar o barulhento Sid Vicious por algo mais
leve, mais tranquilo. A gritaria de Sid não é mais necessária agora que estou
na sala de aula. Acho que a relação entre professor e aluno ajuda a conter,
pelo menos até certo ponto, minha energia mediúnica.
Nem sempre fui
essa bizarrice que sou hoje. Já fui uma adolescente normal, do tipo que vai as
festas da escola,, se apaixonava por celebridades e tinha tanto orgulho dos
cabelos louros que nunca pensaria em prendê-los num rabo de cavalo ou
escondê-los sob um capuz. Eu tinha, mãe, pai, uma irmão caçula chamada Riley, e
uma cadela labrador caramelo, fofa, de nome Buttercup. Morava numa casa
agradável, nu bairro bacana de Eugene, Oregon. Era popular, feliz e mal podia
esperar para chegar ao segundo ano, pois tinha acabado de me tornar líder de
torcida da principal equipe da escola. Minha vida era completa, o céu era o
limite. Essa história de céu pode ser um pouco ultrapassada, mas, no meu caso,
ironicamente é também a mais pura verdade.
No entanto, seu
tudo isso apenas por ouvir, pois desde o acidente só me lembro claramente de
uma coisa: eu morri.
Chap. 1 - part 2/2
Não houve nada de “quase” no que me aconteceu.
Tive o que as
pessoas chamam de “experiência de quase morte” ou EQM. Acontece que as pessoas
estão erradas. Podem acreditar, não houve nada de “quase” no que me aconteceu.
Foi assim: Num instante, Riley e eu estávamos no banco de trás da Mitsubishi do
papai. Buttercup com a cabeça pousada no colo de minha irmã e o rabo batendo
suavemente em minha perna, e a próxima lembrança... os airbags inflados, o
carro inteiramente destruído e eu lá, assistindo a tudo do lado de fora.
Olhando para os
destroços – os estilhaços de vidro, as portas amassadas, o para-choque
dianteiro
agarrado ao tronco
de um pinheiro num abraço letal - , fiquei me perguntando o que poderia ter
acontecido de errado, esperando e suplicando que todos tivessem conseguido sair
dali como eu. De repente, ouvi um latino familiar, virei para trás e vi minha
família seguindo por um caminho guiada por Buttercup, que abanava o rabo.
Fui ao encontro
deles. De início, tentei correr e alcançá-los, mas depois fui mais devagar,
querendo me demorar e passear por aquele campo vasto e perfumado de flores e
árvores vibrantes, que tremeluziam, e apertando os olhos diante da névoa
deslumbrante que refletia e brilhava intensamente, iluminando tudo.
Prometi a mim mesma que seria rápido, que logo voltaria para encontrar minha família. Mas, quando enfim olhei, só deu tempo de, num relance, eles sorrirem e acenarem para mim ao atravessarem uma ponte, sumindo de vista pouco depois.
Prometi a mim mesma que seria rápido, que logo voltaria para encontrar minha família. Mas, quando enfim olhei, só deu tempo de, num relance, eles sorrirem e acenarem para mim ao atravessarem uma ponte, sumindo de vista pouco depois.
Entrei em pânico.
Olhando para todas as direções, comecei a correr de um lado para o outro, mas
tudo parecia igual: uma névoa sem fim, tépida, branca, brilhante, bonita e
estúpida. Então cai no chão, xingando, implorando, fazendo promessas que jamais
poderia cumprir.
Foi então que ouvi
alguém dizer:
- Demetria? É esse o seu nome? Abra os
olhos e olhe para mim.
Aos
tropeços, voltei para a superfície, onde tudo é dor e sofrimento, e minha testa
latejava de tanta dor, uma dor lucinante. Então olhei fixamente para o cara que
se curvava sobre mim, dentro de seus olhos escuros, e sussurrei.
- Sim, sou a Demi.
– e desmaiei outra vez.
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Decidi postar as duas partes do primeiro capítulo pra vocês. Espero que gostem!
3 comentários para o próximo.
Stay Strong!
XOX
Bia.
ah lindo...perfeito
ResponderExcluirposta logo!!
super curiosa
Que bom que você gostou! Fico super feliz.
ExcluirPostei! ;)]
XOX
mt mas mt bom...
ResponderExcluirsimplesmente lindo *---*
ja me tornei seguidora, só para não perder um cap sequer
se puder divulga e dá uma olhada no meu blog?
http://lovatic-fantasiafic.blogspot.com
bjao
e nao esqueça por favor de postar logo
YAY!
ExcluirQue bom que gostou.
Pode deixar, divulguei.
Ah! Seja bem-vinda. Já estou te seguindo também.
Postei.
XOX
omd. posta logo to super curiosa
ResponderExcluiradorei (:
Postando... (:
ExcluirEspero que continue gostando...
XOX
perfeitoo!!
ResponderExcluirhahah, soh dah a atrasada aqui!
bem, mas lerei todos e ainda pedirei para que poste logo u.u ..
como eu amoo a personalidade de Dem, e sobre a vida dela, estou ainda mais entretida!! quero saber e ler cada vez mais !
vou correndo para os proximos!
xx